domingo, 10 de março de 2013

Scarlett & Eu #4

Hoje eu acordei meio diferente.
Não sei bem o motivo.
Acordei com uma falta, com um vazio. Vontade de abraçar a Scarlett e beijá-la. Beijo na boca. Daqueles de lábios, não o de língua. Daqueles que pede um abraço forte como acompanhamento e que exige entrega e amor. Dos que te levam a fechar os olhos e cheirar nucas, cabelos.


                                                                                   ...

Ontem eu vi um louva-deus na garagem de casa. Lindo. Você sabia que em algumas espécies de louva-a-deus, a fêmea precisa comer a cabeça do macho que está copulando com ela? Isso porque, dentro da cabeça do macho, lá no cérebro, existe um inibidor de ejaculação. Então a fêmea precisa acabar com esse inibidor, se ela quiser ter seus filhotes. Então ela come a cabeça do macho, o inibidor deixa de funcionar e o macho ejacula, fecundando os óvulos. Tudo isso acontece muito rápido. Muitas vezes a fêmea nem come o corpinho dele, mas ela guarda pra quando os filhotinhos nascerem já terem alimento disponível. 

                                                                                 ...

- Você tá meio distante. Cansada?
- Tô pensando.
- No quê?
- Na minha vida. No meu trabalho. Em como eu tenho que ser eu, e outra. Em como eu era, e como eu sou. Estar sendo. Ter sido.


                                                                                    ...

Faz duas semanas que não nos vemos. Incrível como namoradas imaginárias trabalham tanto! Testes, filmagens, fotos. Agenda cheia. Coisa de atriz, né? ... Ah, merda, quem eu tô querendo enganar. Acho que a culpa é toda minha. Eu me acomodei na relação. A felicidade dela deixou de ser uma meta pra mim e passou a ser somente mais um pressuposto que me confortava quando a preguiça de me esforçar batia.

O telefone toca.

- Alô.
- Bill?
- Eu mesmo. Quem é?
- É a Mirabelle. Tô ligando pra saber da Scarlett, faz tempo que ela não aparece nas sessões. Como ela é uma projeção da sua mente, resolvi falar com vc pra ver se sabe de algo.
- Eu acho que eu fodi com tudo, Mi.
- Como assim, tá falando do quê?
- Eu acho que no fundo eu comecei a acalentar uns desejos de ter uma namorada de verdade, sabe, umas idéias de que talvez minha vida com ela não fosse plena, completa.
- Mas isso é super normal, Bill. Pq vc acha que esses pensamentos tem ligação com o sumiço dela?
- Pq ela me conhece. Melhor do que qualquer outro, mais até do que eu mesmo. E eu sei que ela nunca aceitaria ser um peso na minha vida. Acho que ela sacou esses meus pensamentos e se retirou discretamente.
- Já tentou entrar em contato com ela?
- Não. Algo me diz que ela não quer ser encontrada.
- Ah, me poupe desse drama, por favor.
- Mas que que eu posso fazer?!
- Levanta essa bunda da cadeira e vai atrás da sua mulher, oras!
- Unh... talvez vc tenha razão.
- Tá, então pede pra ela me ligar assim que encontrá-la, ok?
- Tá certo Mi, falo sim. Beijos.
- Beijos

Mentalizo minha galega ao meu lado. Seus límpidos olhos verde-claros, seus cabelos amarelos ondulados e sua boca vermelha, convidativa. Sua discreta pinta na bochecha direita, os bracinhos finos, os dedos longos. O cheiro de eterno despertar, a respiração forte. Os pezinhos hábeis e macios, a gordurinha sobressalente nos quadris. Ok, ela aparece ao meu lado, no sofá.

- Senti sua falta, Preto.
- E eu a sua.
- Tá afim de trepar?
- Tô.


                                                                              ...

- Sabe o que seria sensacional?
- O quê?
- Sair por aí enchendo a cara e visitando alguns amigos.
- Sério? Achei que vc tivesse numas de filminho e lazanha.
- Ah, cansei. Li muito Hilda Hilst hoje.
- E daí?
- E daí que me dá uma certa angústia, um desconforto em ficar na minha casca.
- Não entendi.
- Talvez tenha a ver com o fato dela alargar tanto o universo das palavras, da própria linguagem. Talvez eu veja nisso um certo alargamento das possibilidades que a vida oferece, sabe.  É como se explodisse uma bomba de tesão pela vida dentro de mim, entende. É tipo um fogo na rabo.
- É um tanto vago, mas eu acho que entendi.
- Os sentimentos vastos não tem nome.
- Justo. E daí sair vai resolver isso?
- Se eu ficar em casa vou morrer sufocada.
- Tá afim de beber um vinho? Era isso que a Hilda mais bebia.
- Acho ótimo. Vou trocar de roupa e a gente sai.

Para onde vão os trens meu pai?Para Mahal, Tamí, para Camirí, espaços no mapa, e depois o pai ria: também pra lugar algum meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem tu não te moves de ti.

- Gostei daquele vinho que a gente tomou quinta passada.
- Aquele do bistrô? Bom mesmo.
- Qual que era o nome?
- Ah, minha memória é uma merda, vc sabe disso. Só guardo nome de diretores e filmes, não sou tão sofisticado a ponto de memorizar nome de vinho.
- Vamos pro Pão então?
- Bóra.


A noite acaba de cair, o clima é ameno com lufadas gentis de vento. Caminhamos um tanto até o mercado, enquanto discutíamos quem era o melhor, Tarkovski ou o Bergman (sabíamos que no fim John Carpenter sempre seria considerado o melhor).

- E aí, qual vc quer levar?
- Que tal esse chileno?
- Ótimo. Vou ali pegar uns salgadinhos. Vai me esperando na fila. 

                                                                          ...

- Vamos dar um pulo no Ari e na Renata?
- Pode ser, desde que eu consiga ficar bêbada antes de chegar.

Seguimos o rumo entre passos, goles e mais discussão, desta vez sobre a forma horrível com que o Bergman tratava a Liv Ullmann.







segunda-feira, 7 de maio de 2012

Ela & Ela #4

O novíssimo texto da perspicaz psicanalista da Scarlett, a freudiana Mirabelle.




Ela chega bem na hora. Embora já esteja um pouco mais fresco, no tempo de outono, ela vem de vestidinho vermelho, nada extravagante para essa hora da tarde. Algo de uma estampa miúda. Fofa até eu diria. É curto, mas lhe dá um ar infantil.

Não está calor, mas ela chega com as bochechas rosadas. Em uma primeira olhada chego a pensar se estaria com febre... mas não, não é desse calor que se trata.

*sim, esse não é um vestidinho vermelho, mas vocês captaram a idéia, né?*

Scarlett - Boa tarde. Diz sorridente.

Passa por mim e sinto o cheiro de tutti-frutti do perfume do qual faz a campanha. Já conversamos sobre isso. Pessoalmente não gosto de perfumes adocicados e com cheiro de fruta, mas teria dificuldade em encontrar um aroma que caísse melhor nela nessa tarde azul e rosa.

As pessoas que fazem as propagandas de perfumes são as melhores marqueteiras do mundo. Você sente um cheiro e imagina que esse perfume é de um cara em um iate, aí você abre o olho e lá está essa imagem, camisa de linho branca, num mediterrâneo muito azul, cabelo grisalho. Tem perfumes de homens com filhos, tem outros de garotões em carros esportes, cada cheiro tem uma vida inteira de história.


Perco-me momentaneamente em um devaneio linguístico besta. Um dia, sem nada, mas nada mesmo na cabeça, em um supermercado vi um pacote de qualquer coisa de sabor tutti-fruti, pensei: tutti-fruti, todas as frutas! Lógico! Como não pensei nisso antes?

Ah o prazer do olhar estrangeiro sobre as coisas acostumadas, nos proporciona descoberta saborosas.

Ela se deita no divã.

O cheiro de todas as frutas do Dolce & Gabbana se esvoaça por ali, levemente.


Scarlett - Hoje não sei o que falar, não vim com nada assim... pronto na cabeça.

Silêncio.

Li em um livro uma descrição interessante, dizia que uma terapeuta devia ter que estudar muito para ganhar essa cara de que poderia ficar ali, em silêncio, para sempre, ou até o fim da sessão, te acompanhando, ou te escutar atentamente quando você decidisse dizer qualquer coisa.

Se esse estado interno fosse transformado em imagem por um marqueteiro que faz campanha pra perfume, ele faria uma cena de uma tarde de outono.

As tardes de outono são assim, companheiras e serenas. Quietas, mas cuidadosas.

Mirabelle - Hoje não tem nada de urgente pra dizer.

Scarelett - É.

Mirabelle - É bom... você pode falar o que lhe vier a cabeça.

Scarlett - humm... as vezes fico de um jeito como estou agora... eu gosto, mas não tenho com quem falar sobre isso, chego até a ficar meio com vergonha, até com culpa, sei lá.


Ela para de falar, parece aguardar minha aprovação para continuar.

Silêncio.

Scarlett - Sabe, é que as vezes eu me sinto meio que nem... acho que nem um homem... não é nada de homossexual, nada disso, é que tem momentos que fico com tanta vontade, fico tipo... ah já sei, não que nem homem, é como se fosse no cio. Acho que essa expressão é melhor, se bem que não pega muito bem, de qualquer forma. Mas sabe,  é estranho, apesar da gente viver em um momento histórico de vida sexual liberada e tal, não sinto que de fato exista um espaço, pessoas com quem eu de verdade possa falar sobre isso. Se eu falo com amigas, elas vão achar que estou querendo me mostrar, se eu falo para um amigo, acha que eu estou querendo dar pra ele. Talvez um amigo gay, mas nem assim.

Scarlett - Com o Bill esse fim de semana por exemplo, tadinho, acho que até assustou [risinhos]. Sinto uma coisa especial entre nós. Dá liga, sabe? Acredito que isso não tem explicação, acho que é coisa entre macho e fêmea mesmo, se tem, tem, se não tem, não há langerie, vela perfumada, massagem e essa tralha toda que resolva. Mas sabe... não que não seja especial com ele... mas tenho a impressão que essa coisa, esse momento, é meu... entende?


Ela não me dá nenhum segundo pra eu processar ou dizer nada.

Scarlett - Não que não tenha a ver com ele, mas é como se fosse algo meu comigo mesma, com meu corpo. Se eu fosse esotérica e mística ía dizer algo a respeito de energia e lua e essa baboseira toda. Não que eu credite nisso.

Mirabelle - Mas você está falando que a sua relação com a sua sexualidade é pessoal, que ele pode te acompanhar, mas não depende dele.

Scarlett - É isso! No sábado tomei uns negócios que compramos na feirinha, umas garrafinhas que o tiozinho falou que era afrodisíaco, mas não acredito que seja isso. Já fiquei assim antes. Sabe, quando eu tinha 15 anos e tinha um namoradinho lá do colegial, e pensei uma coisa: Que eu nunca teria tanto tesão na minha vida mais do que naquele momento. Ai, como eu me enganei! Acho que tem algo a ver com chegar aos 30 anos. Fico as vezes pensando nesses momentos, até onde eu chegaria... até onde é legal e a partir do que começa a ficar estranho, perigoso até...

Mirabelle - Perigoso?


Scarlett- É. Sabe De Olhos Bem Fechados? O Tom e a Nicole se separaram logo depois de rodarem o filme. Penso nisso, uma festa daquelas, swing com pessoas desconhecidas, mascaradas. Até onde a fantasia excita e a partir de que limite assusta? Não tô falando de modelos mascaradas mortas por milionários, se bem que essas festas existem mesmo.

[Jura? Jura mesmo que existem? Verdade? E o Tom Cruise e a Nicole Kidman, fala mais sobre eles, o que aconteceu? E de novo, que festas são essas??? Não posso perguntar posso? Seria por pura curiosidade e não posso perguntar algo só pra matar a MINHA curiosidade, Saco!!! De novo, ouvi direito? Essas festas existem?]


Scarlett - ... [quando voltei a ouvi-la, depois dos gritos das profundezas da minha cabeça ela estava mais ou menos dizendo que]  eu já fiz essas coisas [Droga, perdi o que ela disse, fez o que?? Com quem??] podem ser legais, mas sabe o que andei pensando quando estava vindo pra cá e ouvindo umas músicas que o Bill me mostrou?

Novamente não me deu nenhum segundo pra dizer nada, também não sei bem o que ela quer com tudo isso hoje. Me causar inveja? Como disse que esse tipo de assunto pode causar? Me suscitar curiosidade? O que ela está querendo comunicar?

Mirabelle - Que músicas?

Scarlett - Umas da Mallu Magalhães e do Camelo. Eu gosto dela desde que ela começou, com 16 anos, tocando Thubaruba, mas quando ouço os dois cantando juntos hoje em dia e como ela está bonita, linda, na verdade, fico pensando que no fundo mesmo o que eu queria era aquilo.


Mirabelle - Aquilo o que? [do que que ela tá falando?]

Scarlett - Eu tô dizendo o seguinte: você pode ter as experiências sexuais mais arrebatadoras do mundo, intensas, em super festas, com caras incríveis ou com um cara por quem você esteja apaixonada e tenha todo aquele lance de cheiro e pele e tal. Mas aquilo que parece que eles tem... já imaginou alguém te escolher enquanto você é um projeto de você mesma, vendo lá no fundo tudo aquilo no que você pode se tornar... porque parece que foi assim entre eles dois. E os dois cantando juntos, isso sim parece ser uma cena de amor.


Ficamos as duas em silêncio.

Scarlett - É... acho que tudo isso, seja lá o que for, não tem nada a ver com estar me sentindo um homem.

MIrabelle - Você está dizendo que o sexo, por mais excitante que esteja, vem acompanhado de um desejo ou uma promessa desse amor que PARECE tão junto, tão bonito.

Scarlett- Mas o deles deve ser mesmo assim.

Mirabelle - Bom, o que a gente sabe é que o amor dos outros a gente sempre pode imaginar, e talvez por isso possa ser assim, tão bonito.



segunda-feira, 19 de março de 2012

Scarlett & Eu #3


Estamos os dois dentro do carro. Ela no banco do carona, desesperada com o meu péssimo desempenho no aprendizado de condução de automóveis.

- Por Deus, Bill, você quase atropelou aquela velha!
- Desculpa, desculpa, to me acostumando com o volante.
- Eu tirei minha licença pra dirigir ao 18.
- É, e você fez uma obra prima com a Sofia Coppola aos 18.
- Olha o sinal.
- Eu vi.
- Vamos parar ali na feirinha.
- Eu tenho dificuldade em aprender as coisas, desculpa, eu sou assim.
- Para ali na frente daquele pet shop.


Paro o carro no local indicado, cerca de 700 quilômetros longe da guia. Desço com o alívio de um claustrofóbico saindo de um submarino depois de anos de confinamento.

- Cacá, vamos comprar pastel.
- Vamos, to morrendo de fome.
- Vai querer de quê?
- Palmito.
- Eu vou no clássico de carne.
- Ei, olha só isso.

Scarlett me mostra uma barraquinha onde se vendem vários produtos regionais lá do Norte e Nordeste. Há uns frasquinhos engraçados, de umas bebidinhas vermelhas.


Scarlett - Sempre pirei nessas coisinhas.
Bill - Que engraçado. O que será que é isso?
Vendedor com 4 dentes na boca – Isso é uma maravilha milagrosa lá em São João da Paraíba. Já salvou muito casamento, já botou muito sorriso no rosto das mulheres.
Bill – hahahahhah, é tipo afrodisíaco?
Vendedor com 4 dentes na boca – tipo não, meu filho. É afrodisíaco!
Scarlett – Ai, eu quero experimentar.
Bill – Tá doida, mulher! Vc já me dá o maior trabalho e agora quer jogar gasolina no seu fogo?
Vendedor com 4 dentes na boca – Tá com medo de não dar conta, menino?
Scarlett – Vixi...
Bill – Tá doido, tiozinho? Dá esse baguio aqui, vou levar dois.
Vendedor com 4 dentes na boca – hehehhehe
Scarlett – Esse seu orgulho é tão patético que chega a ser engraçado.
Bill – Nem vem que vc que inventou isso.
Scarlett – Ah, me dá que eu quero beber isso agora.
Bill – Desse jeito vou ter que comprar pastel de amendoim!
Scarlett – Xuxuzinho.


Enfim, nós compramos os pastéis, comemos e tomamos um suco de laranja. A Scarlett misturou o suco dela com a tal da bebida do tiozinho. Eu fiquei sussa. Tenho medo de ter caganeira com essas coisas. Depois ainda demos um pulo no sebo e compramos uns livros (uns Fernando Pessoa, outros Paul Auster, e alguns quadrinhos da Turma da Mônica Jovem). Depois voltamos pra casa, dessa vez com a Scarlett dirigindo.

Bill – Ah, meu deus, certeza que botaram sonífero no meu suco.
Scarlett – Soninho, amor?
Bill – Todo. E o afrodisíaco, tá fazendo efeito? Já tá com fogo no brioco?
Scarlett – Nada, to sussa. Acho que fomos enganados.
Bill – No fim das contas a música dos Titãs não é tão precisa assim.
Scalett – hahahhahhahha

Entro em casa e vou direto pro sofá. Ligo a tevê e começo a ver uma reprise de The Big Bang Theory.

Scarlett – Vou dar um jeito nessa cozinha que tá muito bagunçada.
Bill – Eu te ajudo. Me dá 5 minutinhos.

Evidentemente eu capoto depois de 5 segundos.

Bill – Ah, meu deus, dormi. Scarlett, já vou te ajudar... Uau


Sim, leitores, meu choque foi total. Nunca vi essa loira tão provocante nesses 3 anos de relacionamento imaginário.

Bill – Meu amor, vc tá limpando essa geladeira quase peladinha. Vai pegar um resfriado.
Scarlett – Coitada de mim, né, Bill. Tô procurando alguma salsicha aqui dentro.
Bill – O quê?!?!? Mas que comentário mais de mal gosto!
Scarlett – Tudo bem, já que você fica aí se fazendo de tonto, vou comer um nuggets então.


Fiquei estarrecido com a cena, e resolvi fazer o meu papel de namorado. Aquela mulher estava incontrolável, insaciável, quase arrancou o meu couro. Após uns dois terços de hora, sei lá, desmaiei no chão da cozinha. Um tempo depois despertei.


Scarlett – Oi amor.
Bill – Que que vc tá fazendo aí em cima?
Scarlett – Tô ficando bonita pra vc.
Bill – Oh, meu deus.


Claro que ela desceu da pia e pulou em cima de mim. Sem opções, cedi.

Acordei  no meio da grama do quintal, com o sol na minha cara.


Bill – Onde é que eu to?
Scarlett – No jardim, tolinho.
Bill – Que que eu to fazendo aqui?
Scarlett – Eu que te trouxe.


Bill – Minha linda, aquele afrodisíaco é muito forte. Cê tá com muito fogo na piriquita, desse jeito vc me mata!
Scarlett – Ah, jura que vc não tá gostando? Peninha, logo agora que eu queria brincar com meus pezinhos.


Fomos imediatamente pro quarto.

Duas horas se passaram.


Bill – Eu preciso me alimentar.
Scarlett – Eu também. Tô sentindo uma fome que vc não faz idéia.
Bill – Já anoiteceu. Vamos pedir uma pizza.
Scarlett – Ótimo. Mas a gente pode dar mais umazinha enquanto o entregador não chega?
Bill – Sério?!?!?!
Scarlett – Ah, larga a mão de ser gay, vem cá!

Ok, ok, acho que todo mundo já entendeu, então vou parar de escrever pq esse post já tá virando uma grande bobeira!


quinta-feira, 1 de março de 2012

Ela & Ela #3

Novo texto da psicanalista da Scarlett, Mirabelle.



Véspera de carnaval.

No Consultório, sexta feira de carnaval. Fecho a janela para não ouvir Michel Teló. Nada contra a figura dele, mas toda vez que falo “ai que delícia“ a seguinte frase: “ai se eu te pego“ vem engatilhada, e fico chateada.

Fico com raiva porque sinto como se ele tivesse patenteado essa expressão da língua portuguesa (e essa frase pode aparecer em momentos especiais).

Hum, não sei o que achar do carnaval esse ano. Nos dois últimos fiz as coisas mais tradicionais que alguém no mundo pode fazer no carnaval, digo no mundo porque se há algo de tradicional no mundo do carnaval é Salvador, trio elétrico, não ter onde fazer xixi coisa e tal e desfilar no Rio no outro ano, intercalado com baile de máscara e bloquinhos de rua, reativados nos últimos tempos (o que acho bem jóia, by the way).


Mas apesar dessa programação poder parece algo incrível para alguns, era claro que eu estava passando o tempo, como um ensaio até a estréia principal de alguma outra coisa.

Li um livro recentemente no qual uma personagem de 40 anos começa a namorar, e sua mãe, senhora simpática na história, pergunta a razão desse relacionamento, se estava claro que o sujeito não iria se casar com ela e ela já tinha passado do tempo de ter filhos.

A resposta da personagem retumba na minha cabeça: “Vou matar o tempo até morrer".

Divago sobre isso... sobre coisas que fazemos para “matar o tempo até morrer“, quer dizer, todas as coisas que não são essenciais, que não são realmente  significativas.


Essa questão sempre foi tema central de crise pra mim. Tem hora que passa, tem hora que volta. O que vale? Vale em si mesma, sem valer depois. Tipo assim, eu trabalho porque ganho o salário pra pagar contas no final do mês. Não. Não. Não. Isso não vale em si mesmo. Esse tipo de trabalho vale como um meio para um outro algo.

Sempre que estou nessa crise e quero me piorar leio meu manual-de-piorar-a-crise, “Memórias do Subsolo". Ah Dostoiévski, droga de companhia que você me faz nessas horas, se eu não tivesse você eu sairia dessa antes.

Ele diz: “Oh, se eu não fizesse nada unicamente por preguiça! Meu Deus, como eu me respeitaria então!"


Estava perdida nesses pensamentos dostoiévskinianos quando ouço a porta abrir e Scarlett entrar na sala de espera.

Olho no relógio, ela chega cedo hoje, silenciosa vejo que se serve de água.
Chamo-a na hora, está lendo uma revista, sentada, parece mais tranquila que na sessão anterior.


Scarlett - A gente voltou!! E nem precisei contar pra ele que foi o Ryan que me largou, ele ía se sentir mal, tipo eu voltar pra ele porque o outro me largou.

Mirabelle - ELE ía se sentir mal?

Scarlett - Ah vai... deixa eu me enganar, pelo menos aqui...

Silêncio

Scarlett - Aqui que isso não faz sentido né? É... eu me sentiria uma merda depois do que eu fiz, na verdade eu me sinto, mas não tanto, porque também tô feliz, feliz de verdade por estar de volta com o Bill, o Ryan foi uma paixãozinha, mas na verdade ele é, como vocês dizem na psicanálise, não é egoísta, é uma outra palavra, aquela que fala do mito grego, acho, do cara que se afogou na própria imagem...

Mirabelle- Narciso, narcisista?

Scarlett- Isso! Ele se acha o máximo. O pior é que ele convence os outros disso, e eu acreditei nisso no começo, no meio, e até no fim, quando ele terminou comigo, mas olhando agora, ele é um babaca.

Me levanto e abro a janela, faz muito calor.


Scarlett- Tá calor de novo né? E já é quase carnaval, nunca passei um carnaval no Brasil, tô tão animada, mas meio confusa, achei que todo mundo gostava de carnaval aqui, mas ouvi gente falando que não vai viajar, que tem trânsito, que fica tudo uma bagunça, que é uma zona.

Scarlett fala essas últimas opiniões alheias imitando uma voz de senhora ranzinza e eu dou risada.

Scarlett se senta no divã e olha pra mim, cara de sapeca.

Scarlett - Lembra daquela vez que a gente saiu pra beber uns martinis porque eu tava mal porque o Bill tinha beijado aquela vag...?

Mirabelle - Ainda não consegue falar o nome dela?

Scarlett - Não. Mas então... (continua ela, charmosa), e se a gente fosse comemorar o carnaval e a minha volta com o meu lindooooo?

Mirabelle- Já sei!

30 minutos depois...

Scarlett- Sua caaaaaasa?


Ela estava visivelmente decepcionada. É claro que esperava um bar com mulatas e samba, não adiantou eu explicar que isso não existia aqui nessa cidade,  não na sexta a tardezinha. Sim, era carnaval. Sim, ela estava no Brasil sim, mas não. Não tinham tambores por aí nem um esquema mais Chico Buarque, uma pegada tipo  senhores de branco e chapéu tocando cavaquinho e sentindo saudades do tempo que o malandro usava navalha.

Descarregamos umas comprinhas no balcão da cozinha e ela ainda bufa, só pára quando eu ofereço uma caipirinha de cajú e prometo em breve uns pasteizinhos de palmito para acompanhar.

É uma coisa engraçada como a gente se lembra na nossa brasilidade perto de algum estrangeiro, eu nunca tinha feito caipirinha de cajú, na verdade eu sempre tomo vinho, mas ela achou isso bem chato.


Mirabelle - Posso perguntar uma coisa?

Scarlett - Claro!

Mirabelle - Que que é esse lance todo de calabresa, panqueca, sonho de padaria, miojo com ovo, presunto, lasanha de você com o Bill? Jesus, quantas calorias tem essa dieta de vocês dois? Eu engordo só de ler.

Scarlett - Ai menina, você vê o que que esse Billzinho faz comigo? E aquela foto minha de biquíni, você viu?

Mirabelle - Vi.

Scarlett - Que qui cê tá rindo? (terceira caipirinha)

MIrabelle - Jesus cristo me abane amiga...

Scarlett - Aiiiii, mas eu gosto de comer....

Mirabelle - Não é nada disso, você tá ótima, mas o que qui-é-aquele biquíni???

Scarlett - Porque????


Mirabelle - Ai querida, já que é carnaval, já que a gente tá falando do assunto, posso te dar umas diquinhas brasileiras? Essa dica é uma máxima da minha prima.

Scarlett - Sua prima é prima também do chef  que é amigo do bêbado do Atala que mora com o Bill?

Mirabelle - Essa mesma!

Scarlett - Ah, já encontrei com ela numas festas com o Neymar, aquele do cabelo de periquito, menino envergonhado, mas ela, sua prima. Nossa, é um arraso!

Mirabelle - Pois é, é mesmo! Dica da prima, prestenção!

Nessa hora expliquei que apesar da minha mais alta reprovação pela dieta mix do Dr Atktins (protein based- calabresa, ovo, presunto, creme de leite) + especiarias da padaria: sonho + pacotes do supermercado: miojo, lasanha que ela e o Will seguiam. Hoje, porque era carnaval, podia caipirinha com açúcar-pouco açúcar- e pastel de palmito, feito em casa.

Mirabelle - HOJE pode entendeu? Porque é carnaval. Carnaval PODE! Tipo, “Vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval“

Scarlett- No carnaval as coisas podem. É assim?

Mirabelle- Mais ou menos.

Scarlett pegou minha bocheche com a mão, virou meu rosto e me deu um beiinho.


Rimos.

Scarlett - “I kissed a girl and I li...“ (parou no meio, assustada)

Mirabelle - Olha só, você tá até cantando uma música daquela lá. O carnaval faz mesmo milagres!



Scarlett - Hummm é bem melhor que da padaria! (o pastelzinho)

Mirabelle - Claro que é, o óleo não é velho, a massa não tem tanta gordura hidrogenada...

Scarlett - Aaaaaaaaaaarrrrhhh! Você tem idéia do quanto eu luto contra tudo isso? Eu moro na Califórnia. CA-LI-FÓR-NIA. Você tem idéia do que é morar lá? Eu ser como eu sou. Mais assim, diríamos, não ter transtorno alimentar é lutar todo dia contra todo esse discurso. Onde eu moro as pessoas acham OK cheirar cocaína, mas sorvete é uma invenção demoníaca, açúcar e gordura em um lugar só, óóó (faz uma cara de susto, ironizando)


Mirabelle - Desculpa. As pessoas estão exagerando mesmo. Come mais um, mais três, quer?

Ela come mais quatro, ainda bufando.

Scarlett - Me conta uma coisa pra me animar.

Mirabelle - Qualquer coisa pra te animar.

Coloco um dvd do Marcelo D2 pra tocar. Na música “o gringo, subiu o morro e bebeu cachaça“

Scarlett - O que você fez nos últimos carnavais?

MIrabelle - Ano retrasado, Salvador, passado, Rio.

Scarlett - Uau, como é?

Mirabelle - Demais.

Scarlett - Não parece muito animada.

Mirabelle - Acho que eu tava passando o tempo até alguma coisa de verdade acontecer na minha vida.

Scarlett - Sei, tipo o Ryan e o Bill.

Mirabelle - Como assim?

Scarlett - O Ryan era Salvador e Rio, e o Bill é o que é de verdade.

Mirabelle - É assim que você sente?

Scarlett - Acho que sim. E pra você? O que é de verdade?

A porta abre e ele entra.

A sala e a cozinha se iluminam.

Mirabelle - Oi amoooor.

Scarlett - Entendi, seu “de verdade" chegou!

Passados uns minutos o Will veio buscar a Scarlett.

Nos despedimos.

Scarlett- E a dica da prima?

Mirabelle- Biquini. Biquini serve para deixar marquinha. Got it? Biquini certo é aquele que fica bom na hora que a gente tira. Quando vocês americanas vão entender isso? God.



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Scarlett & Eu #2


Hoje eu acordei com o cheiro de café permeando o quarto. Ainda sonolento, abri meus olhos e vi a Scarlett sentada na cama, ao meu lado, vendo suas atualizações no facebook enquanto comia pão com geléia de morango e tomava uma caneca de café. Havia uma garrafinha térmica na mesinha de cabeceira.

- Bom dia Lôrinha.
- Bom dia Billzinho.
- Meu deus, que sono. Que horas são?
- Onze da manhã.
- Droga, preciso levantar.
- Precisa nada, hoje ainda é feriado de carnaval. Volta a dormir, vai.


Eu torno a apagar, meio inebriado com a névoa do café. Abro os olhos novamente e estou sozinho no quarto. Vejo as horas no celular: 13:00. Procuro minhas havaianas novas com desenhos que brilham no escuro e caminho até a cozinha. A mesa está posta, com omelete de queijo e presunto, suco de laranja e panquecas com geléia. Ouço risos vindos da sala. É a Scarlett, rindo de um episódio da terceira temporada do Friends. Pego um pratinho e me aninho ao seu lado no sofá. Terminando Friends, colocamos o DVD do Moulin Rouge. Depois fomos pro quarto e ficamos de chamego.


- Vc ainda tá indo nas consultas com a Mirabelle?
- Sim, claro. São fundamentais pra mim. Ela não é apenas a minha psicanalista, é minha grande amiga. Do tipo em que eu posso confiar, entende. Não igual às vadias que habitam Hollywood.
- Sim, sim, a Mirabelle é ótima mesmo.
- Ela não é só ótima, ela é super ótima.
- E vc é uma super doida.
- Como se vc não fosse apaixonado por mim exatamente por eu ser completamente doida.
- Eu não neguei isso.
- Pois é. O louco aqui é vc.
- Eu sei. Aliás, todo mundo sabe.
- Ops, meu celular.
- Deve ser aquele seu agente, te pentelhando pra fazer aquele filme idiota de corrida de carro.
- Alô? ... Oi querida... isso, to aqui... hahahahaha, é pois é, sou assim, fazer o quê... boba... ah, é?... sei, sei sim... daqui quanto tempo?... ótimo, maravilha querida... nos vemos sim... hhahhaahha, pode deixar, não vou esquecer... outro, linda... tchau.
- Quem era?
- Era a Tati, convidando a gente pra jantar com ela e o Chitão.
- A gente vai?
- Claro.
- Onde?
- Eles indicaram o Fellini.
- Genial, faz tempo que não vou pra lá. Daqui quanto tempo?
- Disse que a gente chegava em duas horas. Tá bom, né?
- Amor, vc sabe que eu fico pronto em quinze minutos. É vc que precisa de tempo.
- E aí, vamos tomar banho?
- Melhor convite que eu recebo nos últimos, sei lá, muito tempo.
- Aproveita pq hoje eu to numa generosidade digna de beatificação.
- Amém por isso.


Uma hora e quarenta minutos depois estamos no carro, passando pelo Centro, em direção ao Cambuí. Estamos terminando de ouvir o novo cd da Roberta Sá. Ah, como nós gostamos dessa mulher!
- Achei lindo esse cd novo dela.
- Bom, né?
- E ela tá linda na foto do encarte.


Chegamos e o manobrista vem buscar o carro. Lá na frente do restaurante avistamos o Chitão fumando um cigarro, solitário.

Bill – E aí Chitão, beleza?
Chitão – Sussegado, cara. E aí Scarlett, tudo bom?
Scarlett – Tudo bem, Chitão. Não sabia que vc e a Tati continuavam juntos.
Chitão – A gente ainda se encontra na imaginação do Bill. Gostamos de dar uns passeios pelos bosques da ficção.
Scarlett - E cadê ela?
Chitão – Foi ali na conveniência comprar Su Fresh de morango.
Scarlett – Ué, mas porquê?
Chitão – Não me pergunte, eu apenas dirijo o fusca.
Bill – hahhahahhaha, sem um pouco de loucura a mulher fica sem graça.
Chitão – É, eu bem que gostaria que fosse um pouco de loucura.
Scarlett – E falando na criança, olha ela aí...
Tati - (correndo e falando alto) E aí gataaaaaa, vc tá arrasando com esse look.
Scarlett – Ah, sua fofa, vc que tá um arraso com esse vestidinho.
Tati – Ai, gata, cansei de ser travesti, hoje eu to mulherzinha mesmo.
Bill – Oi Tati.
Tati – Oi gato, bom que vcs vieram.
Bill – Jantar no Fellini não é convite que se dispense, né.
Chitão – Então galera, vamos meio que entrar, pq já tem uma fila formando ali.
Tati – Ué, mas vc já tá com fome?
Chitão – Jamais. Eu não como, só bebo. Mas é que esperar em fila é sempre um saco.
Scarlett – Fica sussa, Chitão, eu sou a Scarlett Johansson, esqueceu?
Tati – Uia, sente o poder emanando da loira.
Chitão – hahahahahahhhaha
Bill – Sim, ela é minha namorada imaginária. Massa, né?


Então nós nos aproximamos da fila, e imediatamente um senhor de grandes barriga e bigode aparece dizendo “Por favor, me acompanhem, há uma mesa esperando por vcs lá dentro”. Foi legal, pq nós quatro sentimos aquela sensação boa de ver Vips, de passar sob o olhar invejoso dos riquinhos que esperavam na fila. Entramos no restaurante e logo na primeira mesa eu vejo meu amigo Felippe Pompeo, acompanhado da Silvia e do Paul McCartney, tendo uma conversa muito animada.


Pompeo – Olha só o Bill e a Scarlett.
Bill – E aí, Pompeo, beleza? Oi Silvia, tudo bem?
Silvia – Tudo bem, querido.
Scarlett – Oi Silvia, quanto tempo, einh?
Silvia – Pois é. Vc tem que aparecer no próximo bazar, vai ter umas coisas ótimas lá.
Scarlett – Nossa, eu super vou.
Paul – Olá pra todo mundo.
Eu, Scarlett, Tati e Chitão – Olá Paul!
Bill – Ah, esses são meus amigos, o Chitão e a Tati. A gente veio jantar e jogar conversa fora. E vcs, tão aqui por prazer ou negócios.?
Pompeo – Os dois, cara. Eu e o Paul estamos discutindo uma parceria musical pro final do ano. Lançar um cêdêzinho, talvez armar uns showzinhos pequenos. A gente tinha ido num bar, mas tinha um cara tocando violão, e, meu, eu acho uma merda esse negócio de showzinho em bar. Se a música é boa, tira nossa atenção. Se é ruim, também.
Scarlett – E a música era boa?
Silvia – Bem mais ou menos.
Paul – Eu achei uma bosta.
Pompeu – Eu também. Hahahhahah, eu adoro esse cara, ele é tão mala quanto eu!
Scarlett – Mas é melhor que bar de karaokê, né!
Silvia – Ai, karaokê ninguém merece.
Bill – Quero ver o resultado dessa parceria, viu.
Pomepeu – Xácumigo, Bill, tamo trabalhando nisso.
Paul – Pena que eu tenha parado de fumar meu baseadinho. Acho que ia ser bom pra dar uma guinada na minha criatividade musical.
Pompeu – Ah, pára com isso, Paul, vc é um gênio, grava músicas incríveis como se fosse ao banheiro mijar. Respirar e compor fazem parte de um mesmo movimento pra vc.
Paul – Ah, Felippe, vc é foda!
Bill – Galera, a gente vai deixar vcs em paz agora.
Silvia – Bom jantar.
Scarlett - Bom jantar pra vcs também. Vamos pegar nossa mesa ali, antes que algum gordo apareça.


Nos despedimos e sentamos no nosso lugarzinho reservado.

Scarlett – Tati, pq vc não falou com o Paul MacCartney?
Tati – Gata, vou te dizer uma coisa. Fiquei muda, em choque.
Chitão – Somos dois.
Bill – Relaxa, gente, isso aqui é ficção. Não faz sentido ficar nervoso com isso.
Tati – Mas então. O que vamos pedir? É minha primeira vez aqui, esqueceram?
Chitão – A comida daqui é magnífica. Eu sempre gasto o que não tenho, mas compensa muito.
Scarlett – A gente veio aqui umas duas vezes, né Bill?
Bill – Acho que foi isso mesmo.
Tati – Meu cabaçinho tá indo embora hoje, quero provar logo essa comida tão comentada por vocês.
Chitão – Só por favor não arrote enquanto nós comemos.
Tati – Fica de boa, gato, que eu guardo todo o meu gás estomacal pra quando a gente tiver juntinhos.
Bill – hahahhahahha, cê ficou vermelho, Chitão! Hahahhahahha
Chitão – Impressão sua.

Nós chamamos o garçom, que, para surpresa geral, e minha em particular, era anão. Fizemos nossos pedidos.



Bill – (completamente emocionado) Oh, meu deus, um garçom anão!
Chitão – Foda! Genial!
Scarlett – Não entendo essa obsessão de vcs com anões. É só um homem pequeno.
Tati – Gente, tinha uma amiga minha que tinha preconceito contra anão. Uma vez a gente tava bebendo no Centro de Convivência, e passou um anão, fazendo Cooper, superbonitinho, com um short e regata da addidas. Daí ela não conseguiu se controlar e deu uma bica na bunda do anão, coitado, caiu no chão e saiu rolando.
Chitão – Que bizarro, mano!
Bill – Que escrota. Mas queria ter visto isso, deve ter sido muito divertido.
Scarlett – Tadinho do anão...
Bill – Eu sempre quis ter uma amigo anão. Aliás, essa é uma das grandes tragédias da minha vida: não ter nenhum amigo anão.
Chitão – Até um amigo judeu vc conseguiu!
Bill – Ah, claro, o Caio preencheu a vaga. E vc é meu amigo reaça.
Tati – E eu, sou o quê?
Bill – Ah, não sei, to te enquadrando ainda.
Tati – Ah, gato, não perca seu tempo, eu sou inquadradável.
Scarlett – hahahhahha, enquadraoquê?!?!?
Tati – hahahahhahaha
Chitão – Tati: a senhorita caixinha de surpresas!
Tati – Prazer, essa sou eu.


Riso generalizado na mesa. O garçom anão vem trazer nossa comida. Eu observo tudo, maravilhado.

Tati – Mas me diz uma coisa, Scarlett, como vc tá encarando esse negócio de todo mundo comentar sobre suas fotos na praia, botando as suas celulites lindas na roda?
Scarlett – hahahhahah, pois é, flor, é o preço da fama, não é isso o que dizem?


Tati – Pq eu preciso dizer, vc arrasou. Forte. Photoshop de cu é rola, a celulite só aumenta o charme, pq mulheres de verdade é que são charmosas.
Chitão – E gostosas.
Bill – E gostosas!
Scarlett – Eu encaro de boa essas coisas, pq eu sou muito muito bem resolvida com o corpo que eu tenho. Nunca fui uma mulher palito, sempre tive uma barriguinha e tal. Eu só tomo cuidado pra não embarangar, por isso sempre dou uma malhadinha.
Tati – Olha essa Scarlett, toda trabalhada na neurose
Scarlett – Claro que não, tem que ficar alerta com isso.
Tati - Ai, eu to uma baleia assassina, mas nem ligo.
Scarlett – Que nada, vc tá super gostosa.
Tati – Bondade sua, gata.

Então uma música invade o ambiente. Todos nós olhamos pro lado, e lá está o Paul MacCartney no piano, e o Pompeo com uma guitarra, os dois cantando Real Love.


A Silvia se aproxima.

Silvia – Bill, vc tá com a sua câmera? Eu esqueci a minha.
Bill – (tirando minha câmera digital do bolso) Claro, claro.
Silvia – Brigado, querido. Tenho que filmar isso.
Bill – Vai fundo.

A música toma o ambiente, e todas as mesas param pra ouvir os dois. É um daqueles momentos mágicos, dessas coisas que só acontecem uma vez, mesmo que seja somente num texto escrito prum blog.